Mistério milenar! Mensagem de 4.000 anos encontrada na argila de Caral é finalmente decifrada
Memória de uma catástrofe nas paredes de Caral
Nas paredes de barro de Caral, a cidade mais antiga das Américas, foram gravadas cenas de corpos emaciados, mães grávidas e figuras em sofrimento, que os arqueólogos agora interpretam como uma lembrança de uma catástrofe climática ocorrida há cerca de 4.000 anos.
Essa seca forçou seus habitantes a abandonar o grande centro urbano do Vale do Supe e a reorganizar suas vidas em novos assentamentos ao longo do mar e dos rios, sem sinais claros de guerra. Essas imagens, vistas agora sob uma perspectiva diferente, parecem funcionar como um aviso deliberado para as gerações futuras sobre o que acontece quando a água desaparece e o equilíbrio com o meio ambiente é rompido.
Os relevos e seu significado ritual

Os relevos descritos pertencem a frisos oficiais que decoravam as paredes de recintos cerimoniais, espaços onde as pessoas se reuniam para realizar rituais, ouvir histórias e relembrar desastres passados. Em um deles, a fileira inferior retrata adultos famintos, com os corpos marcados por extrema magreza.
No registro intermediário, jovens dançarinos igualmente magros aparecem ao lado de grandes peixes, aludindo à fragilidade da sobrevivência e à busca desesperada por alimento.
Para os pesquisadores liderados pela arqueóloga peruana Ruth Shady Solís, que dirige as escavações de longa duração na região de Caral, essas cenas não são meras decorações, mas uma forma de transformar o trauma vivenciado em uma mensagem compartilhada.

Ao esculpir a escassez, os raios e os corpos férteis na lama, a comunidade transformou a memória do desastre em um alerta público — um registro que ressoa quatro milênios depois.
Mais acima no vale do rio Supe, Caral era uma cidade planejada com pirâmides escalonadas, praças rebaixadas e densas áreas residenciais. A datação por radiocarbono situa seu centro monumental entre aproximadamente 2600 e 2000 a.C.
Quando as chuvas se tornaram irregulares e as colheitas começaram a falhar, seus habitantes não construíram muralhas nem reforçaram os arsenais: a arqueologia nos assentamentos posteriores de Peñico e Vichama revela quase nenhuma arma, fortificação ou evidência de massacres organizados.

Com esses elementos sobrepostos, o friso narra uma jornada visual da morte e da fome ao anseio pelo retorno da água.
Em vez de disputarem plantações murchas, as famílias migraram para o litoral e os terraços próximos aos rios, onde podiam combinar a pesca no frio Pacífico com o cultivo em pequenos lotes irrigados. As novas aldeias mantiveram os tradicionais padrões religiosos, com pirâmides e praças rebaixadas, mas ancoraram a vida cotidiana em paisagens onde o acesso à água e aos recursos marinhos era mais seguro.
Em Peñico, por exemplo, escavações revelam restos de macacos, araras, conchas tropicais e cerâmica pintada — indícios de uma rede comercial que conectava o vale, o litoral e rotas que se estendiam até a Amazônia. Em residências e espaços rituais, também apareciam estatuetas de homens e mulheres com rostos e cabelos decorados, provavelmente usadas para reforçar papéis e status compartilhados.
Nas praças, que funcionavam como mercados, circulavam peixes, algodão, abóbora, milho e mercadorias importadas, ajudando a mitigar o impacto de más colheitas. Instrumentos como pututus, conchas esculpidas vistas em relevos e achados arqueológicos, serviam para convocar a população para reuniões, anúncios importantes ou cerimônias em tempos de crise.
Quando a seca era global

As muralhas de Caral e seus assentamentos satélites não estavam isolados do que acontecia em outras regiões do mundo. Registros climáticos obtidos a partir de espeleotemas de cavernas, sedimentos oceânicos e camadas de poeira indicam uma mudança abrupta nos padrões de precipitação há cerca de 4.200 anos, com diversas áreas tornando-se mais secas e com precipitação mais variável.
Textos antigos e camadas arqueológicas da Mesopotâmia, do Império Acádio, das cidades do Vale do Indo e de partes da Síria descrevem campos abandonados, tempestades de poeira invasivas e redes comerciais interrompidas durante esse mesmo período.
Especialistas continuam debatendo o peso relativo das decisões climáticas versus as decisões políticas nessas transformações, mas hoje contam com dezenas de registros regionais e novas escavações para alimentar essa discussão.

A experiência de Caral se encaixa nesse período de tensão:
Distante desses grandes impérios, seu povo respondeu transferindo seu centro principal para uma constelação de aldeias costeiras e do interior, construindo não fortalezas, mas portos, canais, terraços e templos repletos de história.
Vistos nesse contexto mais amplo, os murais de Vichama e Peñico não apenas lamentam uma seca local, mas também retratam a adaptação de todo um sistema regional às mudanças globais.
O alerta permanece em vigor. A história de Caral não oferece soluções simples para as mudanças climáticas contemporâneas, mas aponta para estratégias que ajudaram uma sociedade antiga a lidar com a diminuição dos rios. Suas comunidades distribuíam o risco entre vários assentamentos, protegiam a água disponível, diversificavam as fontes de alimento e localizavam suas aldeias em terraços elevados, cuidando das matas ciliares e construindo canais para aproveitar ao máximo cada gota de água.

Segundo arqueólogos, os murais foram criados justamente para que as pessoas se lembrassem da severidade da seca e de suas causas. Na cena final do friso, o sapo atingido por um raio simboliza a tão esperada chegada da água e a possibilidade de um novo começo.
Quatro milênios depois, essa imagem continua a falar: ela nos lembra que a sobrevivência coletiva depende da manutenção das rotas comerciais, do respeito à fertilidade do meio ambiente e do reconhecimento do custo de romper o equilíbrio entre as pessoas e a paisagem. Caral, a cidade americana mais antiga conhecida, não apenas ergueu pirâmides e praças monumentais, mas também deixou uma lição em argila sobre como enfrentar, com organização e memória, as crises provocadas pelas mudanças climáticas.
Os resultados da pesquisa intitulada “Datação de Caral, um sítio pré-cerâmico no Vale do Supe, na costa central do Peru” foram publicados na revista Nature.
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