Antes de ganharem as manchetes de jornais e virem à público através das redes sociais, as denúncias de assédio já eram documentadas em papiros antigos até porque, vale ressaltar, o machismo não é nenhum pouco recente.
O documento foi descoberto no século 19 pelo pesquisador britânico Henry Salt.

O documento foi descoberto no século 19 pelo pesquisador britânico Henry Salt.

Exemplo disso é o Papiro Salt 124, documento que discorre sobre o funcionamento e organização da justiça no Império Novo do Egito, há três mil anos.

O documento foi descoberto no século 19 pelo pesquisador britânico Henry Salt. Posteriormente, foi enviado à análise de especialistas do Museu Britânico, em Londres, na Inglaterra, onde se encontra até hoje.

A escritura egípcia traz uma longa queixa a um indivíduo chamado Paneb, um suposto artesão e chefe dos trabalhadores que construíam túmulos da realeza. Paneb vivia na aldeia de Deir el-Medina por volta do ano de 1244 a.C. Nesse mesmo vilarejo moravam centenas de trabalhadores e artesãos que ajudaram na construção das tumbas do Vale dos Reis.

              Veja também: A Origem da lenda da maldição da múmia!  –  A Maldição do Quadro do Menino Chorando

O responsável pelas reclamações é um homem chamado Amennakht, trabalhador e filho de um ex-chefe da aldeia (mesma posição assumida por Paneb). No documento, Amennakht menciona que Paneb já cometeu furtos aos túmulos reais, atos de violência e de suborno para conseguir o cargo de poder, adultério e até assédio sexual a uma mulher. Esse último tópico foi levantado recentemente pelo historiador Carly Silver.

Segundo Silver, o documento alega que Paneb desnudou uma mulher chamada Yeyemwaw, a jogou contra a parede e depois abusou dela.

                Uma das traduções do documento para o inglês indicam que

Paneb depravou a cidadã Tuy, quando ela era a esposa do trabalhador Kenna, ele assediou a cidadã Hunro, quando ela estava com Pendua, ele corrompeu a cidadã Hunro, quando ela estava com Hesysenebef; como informou seu filho”.

O termo “corromper/depravar” (debauch, em inglês) ainda é um pouco incerto para tentar entender o que de fato Amennakht quis dizer, se era uma relação consensual ou não. O texto menciona que Paneb praticava adultérios e se relacionada com muitas mulheres da vila, o que inclusive era um crime naquela época.

Ou seja, talvez a denúncia de Amennakht era no sentido de denunciar o crime de Paneb estar se envolvendo sexualmente com mulheres não casadas, e não somente sobre as relações serem consensuais ou não (o que configura um assédio, por exemplo).

De qualquer forma, o que aconteceu com a moça Yeyemwaw parece ter sido um dos principais casos que Paneb cometeu, considerando a importância e a descrição que ela ganhou na escritura.

Amennakht escreveu o documento com a intenção de apresentar suas queixas contra Paneb ao faraó egípcio, autoridade maior do Império. Todavia, o destino de Paneb, de Yeyemwaw e das outras vítimas do chefe são desconhecidos. Considerando as acusações atribuídas a ele, é muito possível que Paneb tenha perdido seu emprego (ou até tenha sido encaminhado à pena de morte como uma sentença por seus crimes).