Como um cadáver se tornou o rosto mais beijado da história
E acredite ou não, talvez até você já tenha tocado os lábios dela…
Ela passou a ser chamada de L’inconnue de la Seine, ou A desconhecida do Sena. Os pesquisadores acreditam que ela tenha se suicidado no rio aos 16 anos, por conta da jovialidade de sua pele e por não apresentar marcas de violência no corpo.
Esse curioso apelido se deve ao fato de que, até hoje, sabe-se apenas que a moça de identidade desconhecida foi encontrada morta nas águas do rio Sena, na França, no final do século 19 (provavelmente em algum ponto entre as décadas de 1870 e 1880).
A única informação que seu rosto revelava era uma expressão serena e um leve sorriso nos lábios e foi ele que conquistou boa parte da população francesa.
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Deslumbrado com o rosto enigmático da “Inconnue”, o legista responsável, chegou a contratar um artista plástico para reconstruir o rosto da jovem em uma máscara.
Eternizando os traços da moça e, de quebra, dando origem a um verdadeiro fenômeno cultural.
O cadáver foi levado ao mortuário de Paris. Todos os corpos não identificados eram expostos em uma vitrine para que pudessem ser reconhecidos pelos parentes ou amigos.
A desconhecida nunca foi identificada, mas sua feição tranquila chamava a atenção de qualquer um que passasse por lá.
Mas as pessoas pareceram não se importar com o aspecto macabro da escultura.
A garota misteriosa se tornou um ideal de beleza na época. Após a Inconnue ganhar popularidade no início do século 20, diversas cópias começaram a surgir por todo lado, normalmente postadas como objeto decorativo.
Conta-se que parte dos luminares da época ostentava cópias da Inconnue em seus domicílios, usualmente atribuindo o fascínio à semelhança entre seu sorriso ambíguo e o da retratada anônima da obra-prima de Leonardo da Vinci, a Mona Lisa.
Não obstante, fala-se também no quão surpreendente são os detalhes encontrados na Inconnue os quais que normalmente se encontram apagados em corpos retirados das águas.
Ademais, com o interesse crescente, a figura ganhou o interesse da história das mídias artísticas.
Aparentemente, as cópias que ocupavam a França à época tinham todas a mesma origem:
O negativo de um registro fotográfico.
Mas o mito da moça anônima não foi cultivado apenas por diletantes tentando acompanhar as últimas excentricidades da moda. Na verdade, a grande incerteza envolvendo as causas da morte da misteriosa modelo acabou por fertilizar as mentes já naturalmente excitáveis de diversos artistas da época.
Em seu texto
Influence and Autenticity of l’Inconnue de la Seine”,
Anja Zeidler menciona nomes como Albert Camus, Rainer Maria Rilke e Anaïs Nin.
Aparentemente, muitos gostavam de exercitar a criatividade ao conceber hipóteses para a causa da morte, traçando ainda possíveis existências prévias para a malfadada moça.
O ideal erótico de um período
De objeto decorativo por excelência, o ícone da Inconnue rumou ainda para as cabeças das moças europeias. Mesmo morta e de origem desconhecida, a moça passou a figurar como modelo estético para muitas donzelas francesas afeitas às últimas tendências.
Contaram-me que toda uma geração de moças alemãs se modelavam tendo a Inconnue como inspiração”,
conta em seus estudos o crítico A. Alvarez.
Conforme levantado por Alvarez, o fenômeno foi apontado pelo professor da Universidade de Sussex; Hans Hesse.
A Inconnue se tornou uma espécie de ideal erótico de todo um período, assim como ocorreu com Brigite Bardot durante a década de 1950”,
escreveu Alvarez, mencionando, como exemplo, o estilo adotado pela atriz alemã Elisabeth Bergner.
Segundo Alvarez, o paradigma estético Inconnue perderia força apenas na época em que a atriz Greta Garbo surgia, juntamente com seu estilo próprio.
Porque se tornou rosto mais beijado de todos os tempos
Se você já passou por algum treinamento de reanimação cardiorrespiratória (referenciado como CPR), é bastante provável que, em algum momento, você tenha lascado um beijo cheio de boas intenções na misteriosa suicida do rio Sena.
Conforme foi posteriormente revelado pela fabricante, a boneca didática Rescue Annie foi forjada nos moldes da Inconnue.
E, bem, considerando-se a popularidade do modelo, é fácil compreender porque se diz que o rosto da donzela do século 19 é o
mais beijado de todos os tempos”
embora as Rescue Annies tenham surgido apenas 80 anos após a morte da Inconnue.
Em busca de uma identidade
Enfim, a despeito do impacto cultural e até didático, fato é que até hoje praticamente nada se sabe sobre a moça que deu vida ao mito da L’Inconnue de la Seine.
Entretanto, o que não faltam são hipóteses e, sobretudo, outras histórias envolvendo uma possível origem para a moça.
Embora admita que
é possível que ela jamais tenha existido”,
existe a história de um pesquisador que rastreou as origens da moça até a Alemanha, terminando por encontrá-la viva a filha do então próspero artesão responsável pelo molde.
Na verdade, não há nem mesmo um acordo sobre se a Inconnue realmente existiu o mesmo valendo para o seu obcecado primeiro admirador, o legista do qual fala a história, e também para a própria máscara original.
Uma modelo…
Já o site The Framer’s Collection identifica a Inconnue como uma modelo de ascendência húngara chamada Ewa Lázló, assassinada por um tal Louis Argon.
Já René Vautrain, outro interessado no assunto, afirmou que se tratava de uma russa residente de São Petersburgo chamada Valérie.
Vale mencionar também as descobertas de Hélène Pinet, que mencionou certo moldador francês que vendia máscaras em Paris.
Pinet afirma que um descendente do artesão contou à época que o pai sempre lhe falava da “bela modelo” que servira de molde para a máscara atestando ainda que seria tecnicamente impossível que a L’Inconnue de la Seine houvesse sido moldada a partir de um cadáver.
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Fonte: aqui
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