Quando a ciência se assusta: 3I/ATLAS confirma uma teoria antiga
No início de novembro deste ano, duas fotografias incomuns surgiram em um fórum especializado dedicado ao objeto interestelar designado 3I/ATLAS.
As imagens, publicadas de forma anônima e apresentadas como registros que mostrariam jatos geométricos de material emitidos pelo cometa, traziam abreviações enigmáticas que rapidamente acenderam o debate entre ufólogos e teóricos da conspiração. As legendas exibiam as designações UMBRA, CASSANDRA, ORACLE e ARGUS-VIS, o que levou a especulações imediatas sobre a suposta ativação de um sistema secreto de defesa planetária — vinte anos após sua alegada criação.
Descoberta e acompanhamento do visitante interestelar
O cometa 3I/ATLAS foi relatado em 1º de julho deste ano pelo telescópio ATLAS, com sede no Chile. Seu nome marca-o como o terceiro visitante interestelar confirmado na história moderna da observação astronômica, seguindo o famoso ʻOumuamua (2017) e o cometa Borisov (2019). O objeto passou pelo periélio — o ponto de maior aproximação ao Sol — no final de outubro, a uma distância estimada de cerca de 200 milhões de quilômetros, entre as órbitas da Terra e de Marte. Observações foram realizadas por instrumentos de ponta, incluindo o Telescópio Espacial Hubble, o James Webb e diversas missões e observatórios ligados à Agência Espacial Europeia (ESA).

Estimativas sugerem que o cometa pode ter entre 7,5 e 14 bilhões de anos, o que o tornaria mais antigo do que o próprio Sistema Solar (aproximadamente 4,5 bilhões de anos). Ele descreve uma trajetória hiperbólica com excentricidade superior a 6 — um valor extraordinariamente alto, mesmo entre objetos interestelares — e, por essa razão, não retornará ao nosso sistema: segue afastando-se para o espaço interestelar na velocidade com que entrou no Sistema Solar.
A publicação que incendiou as redes e as teorias sobre “Cassandra”
Em 20 de novembro, um artigo amplamente compartilhado no Medium alegou que as fotos confidenciais, mostrando padrões geométricos nos jatos do cometa, seriam prova da ativação de um sistema chamado Cassandra — uma hipótese que se reportava a um trabalho apresentado no congresso internacional de Valência, em 2006. A narrativa ganhou força nas redes sociais porque mistura imagens estranhas, termos técnicos reais e um enredo conspiratório atraente para audiência.
Cassandra existe, mas não como um sistema militar secreto: trata-se de um projeto acadêmico estudantil. Em 2005, no âmbito do programa de verão da chamada Universidade Internacional do Espaço, um grupo de estudantes elaborou uma estratégia teórica para defesa planetária contra objetos próximos da Terra.

O trabalho foi apresentado no ano seguinte, no 57º Congresso Internacional de Astronáutica, em Valência, sob o título “Cassandra:
Uma Estratégia para Proteger Nosso Planeta de Objetos Próximos da Terra” — um artigo acadêmico entre muitos projetos de caráter educacional.
As menções a ORACLE, ARGUS e UMBRA na mesma narrativa também se apoia em elementos reais, porém fora do contexto sugerido pelos conspiracionistas:
ORACLE aparece como um projeto de satélite vinculado a iniciativas de pesquisa do Laboratório de Pesquisa da Força Aérea dos EUA, concebido para observações experimentais de objetos em órbita não-geoestacionária e regiões próximas aos pontos de Lagrange. A missão só deve ser lançada em 2026, pelo que não poderia ter monitorado o cometa nos meses recentes.
ARGUS-IS é uma câmera de gigapixel desenvolvida para vigilância aérea e urbana; sua concepção e aplicação real foram descritas em materiais sobre programas de inteligência e tecnologia militar. Consulte documentação pública sobre o projeto ARGUS-IS para compreender seu propósito e limitações.

UMBRA é o nome de uma empresa comercial de satélites (Umbra Space Industries) que desenvolve sensores e radares aplicados à observação da superfície terrestre — não para rastreamento de objetos no espaço profundo.
A narrativa do “sistema secreto Cassandra” é um exemplo clássico de como elementos do mundo real podem ser costurados para produzir uma história verossímil:
Nomes de projetos autênticos, referências a publicações acadêmicas legítimas e tecnologias existentes são combinados com imagens ambíguas e suposições não verificadas.
Organizações internacionais de vigilância científica, como a Rede Internacional de Alerta de Asteroides (IAWN) e centros de pesquisa planetária, monitoram objetos não porque representem necessariamente uma ameaça defensiva, mas pela raridade e valor científico desses visitantes.
A voz da ciência — observações críticas

O professor Avi Loeb, da Universidade de Harvard, um pesquisador conhecido por sua abordagem não convencional a objetos interestelares, apontou características atípicas nos jatos de gás do 3I/ATLAS. Em um artigo publicado em novembro, Loeb observou que os jatos colimados pareciam não ter sido “suavizados” pela rotação do núcleo, uma anomalia que exige investigação.
Mesmo Loeb, entretanto, não afirma a existência de sistemas secretos de rastreamento ou conspirações militares:
Suas observações são científicas e apontam para perguntas legítimas sobre formação e estrutura do objeto.
A história do 3I/ATLAS demonstra o equilíbrio delicado entre o fascínio público por mistérios cósmicos e a necessidade do método científico: o cometa é, sem dúvida, um objeto de enorme interesse para astrônomos e para quem se pergunta sobre a origem dos sistemas planetários, mas seu verdadeiro valor está nas pistas que fornece sobre formação estelar e história cósmica — não em teorias de vigilância militar que emergem da sobreposição de nomes e coincidências.
Na era da informação, criar uma teoria convincente é triste e simples: basta misturar dados verdadeiros com suposições e imagens ambíguas.
Veja o vídeo:
(Obs: O vídeo está em inglês; porém você pode ativar as legendas em português. (clique aqui e veja como fazer))
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